Um assunto muito discutido por toda a gente é o que é que podemos considerar arte e o quão valida é a afirmação que uma obra é mais arte que a outra.
Para responder a esta pergunta temos que ir muito mais fundo a zonas que ainda ninguém conseguiu trazer uma resposta. Aqui vou colocar a minha perspectiva.
Para começar a decifrar isto é preciso saber de onde vem a arte. E resposta para esta pergunta já a temos. A arte vem da inspiração do ser humano. Agora aqui é que chegou o problema… o que é a inspiração e de onde vem?
Vamos começar pela definição de inspiração.
Segundo o dicionário dicio.com arte é:
- Estímulo; capacidade criativa dos artistas, dos escritores, dos autores ou de outros profissionais: o criador jamais perde sua inspiração.
- Iluminação; ideia repentina e momentânea, normalmente genial.
- Efeito ou resultado do que foi criado a partir de um estímulo de criação.
Em todos os dicionários arte é definida como ideia ou pensamento que surge de repente de algum lado. Mas ninguém ainda deu resposta para qual é que é esse lado que surge! Então vamos cavar mais fundo para buscar a resposta.
A identidade do ser humano nasce de um factor genético com uma combinação de experiências que passa ao longo da vida. Essa experiência proporciona a cada individuo um conjunto de referencias pessoais que levam à criação de crenças e convicções que são a base da identidade de uma pessoa.
O facto da identidade de cada pessoa nascer de uma combinação de diversas referencias que passou ao longo da vida mais o seu factor genético faz com que cada pessoa seja única em si.
Mas isto não é algo completamente aleatório. Dependendo da sua localização geográfica e da sua cultura o individuo vai ser exposto a crenças e a ambientes mais ou menos semelhantes relativamente àqueles do seu país. Por isso certas crenças e referencias presentes numa cultura vão ser extremamente semelhantes entre indivíduos. Isto chama-se condicionamento social.
A maneira mais eficaz no início de idade de um ser humano aprender tanta coisa de forma rápida é espelhar e aceitar aquilo que sente, ouve e vê como garantido. Isto permite que as crenças culturais permanecem constantes por um longo período de tempo e apesar de cada pessoa passar por referências diferentes mantém-se uma linha conectora cultural ao longo do tempo. Ou seja de forma geral as pessoas apresentam pequenas individualidades diferentes entre si mas mantém-se um padrão de crenças e comportamentos semelhantes. É daí que nasce a cultura.
Uma curiosidade sobre a inspiração é que é a única coisa que o ser humano não faz que lhe tenha uma utilidade de sobrevivência (às vezes ideias que venham da inspiração têm uma utilidade de sobrevivência mas a ideia não nasce por um estímulo de sobrevivência). O que é muito curioso pois de forma geral todos os seres vivos tomam ação por motivos de sobrevivência. Já podemos concluir aqui que a inspiração é algo que nos distingue dos animais.
Então se a inspiração não nos dá nenhum valor de experiência porque raio é que queremos isto?
O objetivo do ser humano é satisfazer as suas necessidades. E segundo Maslow temos três tipos de necessidade:
- Necessidade de sobrevivência (Fisiológicas e de segurança)
- Necessidades psicológicas ( Sociais/relacionamento e status/estima)
- Necessidades de auto-realização
As duas primeiras podem ser agrupadas nas necessidades de sobrevivência de uma espécie pois sem a sobrevivência e sem a reprodução seria impossível a existência e perpetuação de uma espécie. Por isso necessidades fisiológicas, de segurança e de relacionamento, contribuem para a sobrevivência de uma espécie.
Resta-nos a ultima que são as necessidades de auto-realização e esta está relacionada à inspiração. A inspiração é aquilo surge para nos sentirmos realizados
Para nos sentirmos auto-realizados à algo que queremos que ainda não foi preenchido pelo nosso ser. Aquilo que nós queremos é influenciado pelos nossos valores e pelas nossas crenças que vamos recolhendo e amadurecendo ao longo da vida. E como as crenças são um resultado de todas as experiências que colectámos ao longo da vida, derivamos que a inspiração é o resultado de toda a combinação das experiências e referencias que se tornaram em valores e crenças que nos levam a decidir aquilo que nós queremos!
Deste modo podemos concluir que a arte, que nasce da nossa inspiração, é o resultado do desejo concebido por todas as crenças e valores que se mantém em nós desde o nosso nascimento até o momento presente.
Ainda mais, como base nisso e como já vimos na definição da cultura podemos afirmar que a arte é partilhada de forma mais ou menos semelhantes pelos indivíduos da mesma cultura pois as pessoas da mesma cultura partilham crenças e valores semelhantes como já foi demonstrado anteriormente.
E daqui deriva-se mais uma conclusão importante. Como diferentes culturas têm diferentes valores, a arte é valorizada de forma diferente dependendo da cultura. Isto é, dizer que gostamos mais desta obra de arte do que da outra, é valorizar diferentemente o objeto de arte em si. Agora como os valores intrínsecos já são diferentes de uma cultura para a outra concluímos daqui que a arte é relativa.
Trabalhando mais isto podemos ainda concluir que como as pessoas passam por experiências e referencias individuais únicas, a arte é diferente e relativa de pessoa para pessoa. Apesar de na mesma cultura os gostos tenderem a ser os mesmos pois os valores são semelhantes.
Então quanto mais os valores e a cultura forem diferentes mais os gostos pela arte tendem a ser diferentes. Daí a arte ser relativa.
Contudo há valores que são partilhados sensivelmente da mesma forma pelas diferentes culturas e que nos dão uma ideia dos requisitos que um objeto precisa de ter para ser considerado arte. Por exemplo:
- Quanto mais trabalhoso e mais tempo tiver de se dedicar à criação de um objeto mais valorizado será essa obra de arte.
- Expressão de sentimentos, emoções e ideias atribuindo um significado no objecto.
- Quanto mais único e mais difícil de reproduzir for esse objeto mais valorizado será.
-Leynad